Madrigal

Madrigal
"Para os amantes do puro néctar da existência,
que são as palavras, melodias, a oração que eleva o espírito."

Marcos Pedini

sábado, 19 de março de 2011

Nada restou do amor


E tudo passou
o vento que leva tudo, tudo levou
nossas lembranças antigas
nossas palavras amigas...
nada restou do amor....

Minha saudade ficou bailando no ar
como uma folha de outono
e um som plangente de violinos.

Minha saudade é da cor dos sinos...

Mariza Alencastro

Devaneios


Vesti meu sorriso mais bonito
e prendi o cabelo com duas estrelas...

Não era hora de devaneios nem delírios
mas o vento me chamava com promessas 
de rendas e luares
sobre a areia molhada da chuva.

O silêncio das eras bailava nas folhagens
densas das palmeiras...e o ar da noite
seguia seu tépido esvoaçar de dedos azuis.

Terno era o murmúrio das ondas
entrecortadas pelo alvoroço das gaivotas.
E doce... muito doce ...era viver assim,
suspensa entre as estrelas e o profundo azul do mar...

Mariza Alencastro

Quando a magia desse amor


Quando a magia desse amor que temos
Se gastar, e o sonho arrefecido se perder
Na voraz indiferença dos instantes
Sem lágrima, sem dor, sem esperança,
Voltaremos talvez ao ninho antigo
E esse amor ficará só na lembrança.

£una

Como se não houvesse

como se não houvesse uma paz no fim de cada jornada
ou uma gota de orvalho em cada flr que desabrocha
como se fora tudo uma extensão da não existência
onde os sinos dobram e a alma se fortalece na sombra
dos salgueiros que se curvam
a cada madrugada...
Como se nao houvesse esperança,
e entre a cruz e a espada
cada anjo se despojaria de sua asa dourada
e pousaria na nuvem mais distante
Como se não houvesse o sentido de tudo
e a certeza do nada...

Mariza Alencastro

Sou eu

Sou eu quem apaga o sol
e acende as estrelas...

£una

Não é lá fora

By Sally Swatland
Não é lá fora que está o nosso destino
é dentro de nós, onde quer que estejamos.
e as ilusões que perdemos pelo caminho
não voltam jamais...


Mariza Alencastro
Tela de Sally Swatland

Eu era aquela menina que ficou na praia
os olhos perdidos como algas verdes
um baldinho e um punhado de espuma
pra construir seu castelo de areia...

mariza alencastro

Castelos de areia

quando morrer a ultima estrela
no teto azul da manhã
e a espuma do mar vier banhar os nossos corpos
ainda adormecidos do amor
quando os primeiros ventos do outono
atravessarem as rendas do horizonte
rasgando as ultimas sombras da madrugada
sobre a maré cheia
te cobrirei de conchas e sargaços
para que o mar não te leve de mim,
como levou os castelos que ergui na areia
sem se importar com os meus medos e cansaços.

£una
...abre-se o véu da noite, e as estrelas
piscam...piscam sonolentas
ainda douradas de sol...

£una

Hão de saber...

Tela de Vladimir Volegov
hão de saber as ondas pq tanto mar
e tanto pranto nessas cantigas que
rebentam na praia
hão de saber as ondas
o porquê desta furia nos rochedos
da intrepidez da gaivota que mergulha
sem medo
hão de saber porque o vento que fustiga
e encrespa as ondas ao luar
do latejar incessante do fundo das águas
quando a maré se levanta em seu verde profundo
e tudo é só mar...

£una

Ainda é madrugada

é madrugada ainda
desmancha-se na rua a ultima neblina
pálido raio de sol
escorre pela colina
na estação o trem apita e espera
mais um dia que começa
recheado de sonhos e quimera...

£una

Estrela do Mar

Ontem de tarde na praia
Tu me pediste uma estrela
Não uma estrela do céu
Mas uma estrela do mar
Eu mergulhei bem no fundo
E trouxe pra te encantar
A mais linda estrela viva
que consegui encontrar..

£una
Azul é a cor
do céu
da terra
do mar
e da ternura
sem fim
do teu olhar


Mariza
Alencastro
Azul é a cor
do céu
da terra
do mar
e da ternura
sem fim
do teu olhar



Mariza Alencastro

Quando o inverno chegar

O dia estava tão lindo
que o recortei e guardei
Quando o inverno chegar
e tudo ficar cinzento
eu o penduro lá fora...

Mariza Alencastro

Gosto das minhas coisas

Eu gosto das minhas coisas
do jeito que elas são.
Uma concha quebrada 
uma boneca sem cabelo
xicaras sem asa ou com beirinha partida;
um urso velho sem pelo,
um quadro sem moldura
pendurado assim meio de banda
na parede descascada.
vidros vazios de perfume
mas que ainda perfumam o ar
um cesto de vime, uma escada
que não leva a nenhum lugar...

Mariza Alencastro

Hão de passar por mim

"...Hão de passar por mim todos os anjos
todos os sinos hão de repicar
e na hora precisa da passagem
o arco-íris se abrirá..."

Mariza Alencastro

Carrossel


"...a vida é um carrossel
com cada pedacinho em seu lugar
que nos crianças, cada cavalinho
queremos cavalgar..."

Mariza Alencastro
(£una)

Rumor de anjos

eles estão por aí
escute o bater de suas asas
o riso alegre , o farfalhar das vestes
o cheiro doce o de jasmim 
que deixa a noite leve e perfumada .
escute seus passos nas alamedas floridas
e a brisa suave que perpassa o arvoredo.
Eles estão por aí...sinta...ouça
são os anjos...

Mariza Alencastro

Onde estão?

Onde estão os meus sorrisos?
_na gaveta do criado mudo.
E minhas alegrias onde estão?
_enroladas num lencinho
no bolso do sobretudo.
Ahhhh....quero paz, onde está minha paz?
_no vaso de lírios sobre a mesa.
Me dê então o amor,onde o amor?
_ainda há pouco estava aqui,
ardendo como uma vela acesa...

Mariza Alencastro

O rouxinol

O rouxinol quando morre
não vai para o céu dos passarinhos
fica aqui mesmo,
cuidando dos outros pássaros
extraviados dos ninhos
Diz a lenda da floresta
que o rouxinol quando morre
vira um anjo-passarinho

Mariza Alencastro

Quando você não vem

Tela de Henry le Basque
quando você não aparece
o dia não acontece
pássaros ficam mudos
barcos se perdem,
e as ondas vão para alto mar
a procura do vento

Mariza Alencastro

Saudades não morrem

saudades não morrem, envelhecem
no peito
nas gavetas
nos baus... nas estantes...
as dores passam, as saudades ficam
no fundo da gente
em algum cantinho escondido
exalando aquele cheiro de musgo verde.

Mariza Alencastro

Histórias de vó


Minha avó sentava comigo no balanço
e contava histórias de fadas
mas também de bruxas e estranhos seres
que habitavam as paredes do quarto.
meu coração disparava.
A bacia no chão cheia de amoras
não dava conta do meu espanto
e da minha aflição.
Depois que ela se ia, eu ficava a ver imagens
que a renda da cortina da janela
projetava nos móveis,
e o esvoaçar das asas dos morcegos no jardim
tomava proporções de dragões imensos
guiados por guerreiros malvados.

Acho que ela nunca soube o tamanho do meu medo
e da agonia que eu passava sozinha naquele quartinho
com apenas a luz do lampião acesa, a espreitar os duendes
que ficavam correndo pelo chão e se escondendo debaixo da cama.

Mariza Alencastro

Desci ao mar

desci ao mar, em sua escura teia
de grutas e cavernas esquecidas
senti seu palpitar de transe em minha veia
com o gosto das noites possuídas
de sal e sangue sobre a branca areia.

Mariza Alencastro

Poetrix


A borboleta 
e uma flor
que aprendeu a dançar


£UNA

Abre a janela

abre a janela, deixe entrar o sol
o sal, o cheiro do mar, as folhas
o luar
deixe que o dia teça a sua teia
nos vãos da sua sala, nas telhas
no porta-retrato
em todo lugar...

£una

Anjo



"...Tua lágrima não tem sal...é doce
doce e azul como teu olhar;
quando rola na seda rosa do teu rosto
 se aninha no canto da tua boca
 que tem gosto de mel e romãs maduras

Teu sorriso é um oásis no deserto
e tuas asas são o meu abrigo..."

£una

Lista de compras

Tela de Janet Hill
arroz,feijão, sabonete
leite em pó. vinho clarete
três sorrisos,duas rosas
milho, carinho , três desejos
dois sonhos e um carretel
um kilo e meio de beijos
e um barquinho de papel.

Mariza Alencastro

Vem do horizonte

Tela de Janet Hill
vem do horizonte esse bater de asas
cortando as marés enfurecidas
que sacodem os barcos 
e jogam na areia as oferendas recebidas
vem da madrugada o som plangente
de navios perdidos
estrelas cadentes, luares imprevistos
rasgando a solidão do mar adormecido.

£una