Madrigal

Madrigal
"Para os amantes do puro néctar da existência,
que são as palavras, melodias, a oração que eleva o espírito."

Marcos Pedini

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Tardes de verão


A tarde era de verão
E o perfume das laranjas enchia o ar.
As meninas mais velhas chegavam primeiro
A saia arrebanhada com os frutos colhidos
Abelhas zumbindo
O pique esconde nos laranjais
A faquinha amolada pra ver quem cortava
Mais perfeitinho
As espirais douradas da casca das laranjas.

Mariza Alencastro

Infância II

infância era um tempo
em que a gente só chorava
quando tinha dor na barriga
quando caía da cadeira
ou machucava os dedinhos
no espinho da laranjeira...

Mariza Alencastro

Infância

Tela de Emile Vernon

Infância
era quando a gente tinha medo do escuro
e abria a janela pra entrar o luar
mas debaixo da cama ninguém se atrevia 
pois ali um monstro dormia
então a gente ficava quietinha
e esperava o dia raiar
a escuridão se dissipar
pra dormir até meio dia!!!

Mariza Alencastro

À beira do mar

eu fui à beira do mar
no meu vestido branco
bordado de estrelas e conchas
ali te esperei
com as rendas se esgarçando
e vendo meu vestido transformar-se em farrapos
pedaços de rendas boiaram nas ondas
e meus cabelos se embaraçaram no vento
mas eu esperei
em seguida me fui com o vestido
ao fundo do mar

£UNA

Quando você não vem

quando você não aparece
o dia não acontece
pássaros ficam mudos
barcos se perdem,
e as ondas vão para alto mar
a procura do vento

£UNA

Saudades

saudades não morrem... envelhecem
no peito
nas gavetas
nos baus... nas estantes...
as dores passam, as saudades ficam
no fundo da gente
em algum cantinho escondido
exalando aquele cheiro de musgo verde.

Mariza Alencastro

Maré baixa





Tela de Bryce Cameron

Maré Baixa


Quando você não vem,
 fica esse vazio
de maré baixa no meu peito,
sem ondas, sem espuma,
sem gaivotas
e tudo é um oceano desfeito
atravessado de silêncios
 e horas mortas..


Mariza Alencastro

Redesenhar-se

Tela de José Romero Redondo
o que é preciso?
redesenhar-se....a cada dia
a vida não perdoa a apatia
é preciso atravessar o deserto,
e sair à procura
buscar o sal...beber na fonte da loucura

Mariza Alencastro

Cotidiano

Tela de Pino Daeni

Já troquei os lençóis
e pus água fresca na moringa
já já o sol desponta
e vem sentar-se aqui
na minha cozinha
bem do meu lado
tomar um café com leite
e reclamar da chuva que ontem caiu...

Mariza Alencastro

Cotidiano

Tela de Pino Daeni

Já troquei os lençóis
e pus água fresca na moringa
já já o sol desponta
e vem sentar-se aqui
na minha cozinha
bem do meu lado
tomar um café com leite
e reclamar da chuva que ontem caiu...

Mariza Alencastro

É certo que te amei

é certo que te amei
talvez um pouco desmedidamente
e contornamos poentes incendiados
envoltos em papeis de puro celofane.
é certo....é certo que não podia dar certo,
não com esses meus olhos cegos de esperança
a confundir os teus com pirilampos
ou esse meu barco de velas rôtas arriadas
teimando em navegar no mar aberto.
é certo que te amei, e quixotescamente
confundi os moinhos, os ventos , a folhagem
e as areias do deserto

Mariza ALENCASTRO

Ventania

Tela de Daniel F.Gerhartz
e a ventania soprava forte nos montes
empurrando a chuva fria que caía
para além do horizonte.
a luz do amanhecer clara e lavada
se enchia de passarinhos molhados
em busca dos ninhos perdidos

Mariza Alencastro

Aprendi

Tela de Alexander Borewko
Aprendi uma coisa muito certa com o silêncio
ele não serve para nada.....
quanto mais vc se cala e se ressente
mas você admite as suas culpas
e mais... o outro dirá 
que quem cala consente

Mariza Alencastro
(£una)

Coisas do mar...

Tela de Daniel.F.Gerhartz

É uma concha, é uma estrela, é um buzio do mar
é o vento, é neblina, é gaivota a voar
é um olhar verde doce, é uma renda de espuma
magia... silencios...e o eterno luar...

£una

Amor passarinho

Meu amor por você
é um amor delicadinho,
cuidadoso
não é um rio caudaloso
é um fio d' água, um riachinho
sem nada de passional
é um amor bem passarinho.

£una

Vontade de...

Tela de Washington Maguetas


passear com você na longa estrada
ladeada de pinheiros e horizontes
sentir o vento em louca disparada
levar as nuvens por detrás dos montes

colher todas as flores do caminho
todas os pinhos , todas as amoras
mudar de rumo, refazer o ninho
trocar um pôr de sol por uma aurora... 

passear com você bem distraída
por uma tarde ou toda a minha vida...

Mariza Alencastro

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O canto do Mar

...No branco rendilhado dos luares
sobre a areia
quando o mar se aquieta e o sono chega
com estrelas pingando nas pestanas
de asas negras
quando o silêncio é mais profundo 
nas hastes das palmeiras
a dançar
a noite ergue seu canto mais profano
nas catedrais ungidas de luar...

Mariza Alencastro (£una)

sábado, 8 de janeiro de 2011

Memórias

Vagam minhas memórias, soltas
nos caminhos ,a desfrutar do vento
e ao desfolhar das árvores
cansadas... derreadas sobre os muros
de tijolos carcomidos.
Vagam minhas memórias,
alheias ao passante inexpressivo
e ao pássaro inesperado em busca
do ninho perdido.
Memórias que vagueiam, onde acharão
o fio que conduz à harmonia
no frio silêncio dessa poesia... 

Mariza Alencastro
(£una)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

minha casa

quero uma casa sem portas
e sem janelas
para sentir o vento
entrando devagar
o vento que vem do mar
pensando bem....sem telhado também
para sentir a chuva no meu rosto
e ver as estrelas à noite quando tento dormir
quero uma casa cheia de vagalumes
grilos cantando na lareira
e roseiras florindo do lado de dentro
quero uma casa de viver
não um lugar só pra morar

mariza alencastro

flor mulher

"...Não era uma flor qualquer
era uma flor do mangue
uma flor de sangue
uma flor mulher..."

mariza alencastro

miosótis

Amor... amor... não demore
os miosótis estão florindo
no jardim
e todo aquele azul
não pode se perder assim...

amor... amor... não tarde
os miosótis estão morrendo,
"não se esqueça de mim"

mariza alencastro


P.S.- os miosotis tbm são chamados "não esqueças de mim

memórias

Vagam minhas memórias, soltas
nos caminhos ,a desfrutar do vento
e ao desfolhar das árvores
cansadas... derreadas sobre os muros
de tijolos carcomidos.
vagam minhas memórias
alheias ao passante inexpressivo
e ao pássaro aturdido em busca
do ninho perdido.
Memórias que vagueiam, onde andará
em que viela antiga, em qual esquina
em que sítio batido de luar
o amor que um dia perdi
e vivo a procurar?

mariza alencastro

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A Casa

A casa era horrível.
um traste velho, de tão mofada chegava a ser verde
de bom só o balanço que o antigo dono esquecera.
No jardim não havia flores, só bananeiras e limoeiros...
e um matagal que alcançava o beiral de telhas velhas e carcomidas.
Chorar não adiantaria, era ali que ia morar,
na penuria dos piores dias de sua vida... assim lhe parecia,
na dolorosa conformação de seus verdes anos...verdes, a combinar
com o musgo das paredes e as folhas da bananeira...

Mariza Alencastro

Ilusão

Tela de Daniel F. Gerhartz

Serão teus os caminhos pressentidos
pela ondas do cálido verão.
Dormentes são as horas quando
em vão,
te espero na poeira das estradas
o sol dedilhando a cabeleira
dos salgueiros
e minha alma cansada.
Serão tuas as formas das areias
que o vento modelou na noite escura
enquanto eu te esperava em vão
pelas estrelas...

Mariza Alencastro