Madrigal

Madrigal
"Para os amantes do puro néctar da existência,
que são as palavras, melodias, a oração que eleva o espírito."

Marcos Pedini

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O vento e a areia


Na praia deserta e fria 
o vento ondula e alisa a areia
tráz do mar a agua salgada
e molha seus flancos ressequidos.
Depois se deita sobre seu corpo umido
rendilhado de espumas
e a ama
profundamente
como um amante cheio de segredos.....

Mariza Alencastro

A menina na praia

Eu era aquela menina que ficou na praia
os olhos perdidos como algas verdes
um baldinho e um punhado de espuma
pra construir seu castelo de areia..
£una

Não é lá fora

Tela de Michael Garmash

 Não é lá fora que está o nosso destino
é dentro de nós, onde quer que estejamos.
e as ilusões que perdemos pelo caminho
não voltam jamais...

£una

Tua imagem



Na mágica beleza desse instante
Imensamente clara e cheia...a lua
Vem passear a sua plenitude
Ao redor da perfeita imagem tua....

£una

Catando conchas do mar.

Tela de Dianne Leonard
Andar descalça na areia
pisando estrelas do mar
colher flores na campina
de onde vejo a lua cheia
navegando pelo ar...

Recompor as minhas asas
como gaivota perdida
num ninho de andorinha
que em plena brisa marinha
perdeu o dom de voar...

Andar descalça na areia
na tarde branda e serena
catando conchas do mar...

Mariza Alencastro

Devaneios


Vesti meu sorriso mais bonito
e prendi o cabelo com duas estrelas...

Não era hora de devaneios nem delírios
mas o vento me chamava com promessas 
de rendas e luares
sobre a areia molhada da chuva.

O silêncio das eras bailava nas folhagens
densas das palmeiras...e o ar da noite
seguia seu tépido esvoaçar de dedos azuis.

Terno era o murmúrio das ondas
entrecortadas pelo alvoroço das gaivotas.
E doce... muito doce ...era viver assim,
suspensa entre as estrelas e o profundo azul do mar...

Mariza Alencastro

Um certo olhar

Tela de Andrei Markin
um certo olhar existe
um quê de sedução na
pupila asustada onde a luz
teme se envolver.
O brusco movimento da gazela
na hora do tiro.
O medo.
O espanto atravessado
de espessas neblinas.
nas areias.
E o olhar se furta,
se comove, se esvanece
na sombra a se mover
o rio acima

apenas um olhar...

£una

Quando a magia terminar

Tela de Galina Kazakova
Quando a magia desse amor que temos
Se gastar, e o sonho arrefecido se perder
Na voraz indiferença dos instantes
Sem lágrima, sem dor, sem esperança,
Voltaremos talvez ao ninho antigo
E esse amor ficará só na lembrança.

£una

Manhã clara

a manhã clara despertando na montanha
com seus cabelos luzidios e molhados de orvalho
se estende ao sol que lhe doura os fios de seda
das ultimas neblinas espargidas no horizonte
É esta manhã clara de uma primavera que ainda dorme
no seio frio da terra a espera do tempo que a florescerá.

Mariza Alencastro

Que o mar me leve

Deixarei que o mar me leve docemente
E entrarei pelas ondas a cavalgar a espuma
Sob o olhar de uma lua indiferente.

£una

Silencio

Tela de Andrei Markin
Livra -me desses pássaros
que circulam no meu pensamento
e não te rias da minha loucura
quero esquecer tua face de argila
antes que a neve derreta nos píncaros
da minha solidão,e o meu rio se extravie
pelas montanhas inertes.
Não te rias, não me deixes na noite escura
onde os ventos passam cortantes como 
facas amoladas na pedra.
Ouve o bramido das searas e das velhas 
catacumbas soterradas...
ouve os meus ais
ouve a minha voz que vem de longe
de muito longe
de um silêncio onde o amor não mora mais.

Mariza Alencastro

Premonição

Não sei bem oq procurava
tudo era tão confuso e improvavel
como os sapatos obscuros das velhas senhoras
sentadas ao pé do fogo, tecendo, tecendo,
as mãos calosas e treinadas nas agulhas
com seus novelos emaranhados
pelas patas dos gatos.
Não sei se era a ventania lá fora
ou um gemido de fantasmas no porão
só sei que os cavalos se soltaram,derrubaram
a porteira e se foram na escuridão...

Mariza Alencastro

Outono dourado

na tarde desse outono dourado
quando o dia finda
meio dependurado
em farrapos de nuvens lavadas
e pássaros 
esvoaçam na palma do vento
uma rosa se recolhe na haste tremula
e corre um rio de estrelas pelo chão
andorinhas no fio da calçada
calam, e esperam a vinda da lua cheia...

£una

Nada restou


E tudo passou
o vento que leva tudo, tudo levou
nossas lembranças antigas
nossas palavras amigas...
nada restou do amor....

Minha saudade ficou bailando no ar
como uma folha de outono
e um som plangente de violinos.

Minha saudade é da cor dos sinos...

Mariza Alencastro

Maio

Maio que acalanta 
Maio que rebrilha no céu azul
de aço e imensidão.
Maio que vem com frio
e madrugadas solitárias.
Maio das mães, 
das noivas,
do perfume de açucenas,
do outono que vai a meio...
Maio das tardes antigas
ladainhas na capela
e doces noites serenas...

£una

Noite no Cais

Tela de Vicente Romero Redondo

A tarde se move mansamente sobre os telhados

olha furtiva e escorre pelos beirais
se derramando sobre a areia umida.

Sopra a espuma da onda
e mergulha decidida nas aguas ;
então o céu se fecha no horizonte,
e a noite desce no cais....

£una

Dois pássaros

Tela de Dianne Leonard

"A dor e a saudade
são dois pássaros em voo
tentando alcançar o galho mais alto
do esquecimento..."

Mariza Alencastro

Novo dia

desce a manhã clara e prateada
arrastando as rendas
do seu longo véu da madrugada
rasgado de estrelas.
Fina neblina escorre das montanhas
sacudidas pelo alvorôço da passarada
Ao longe um galo canta e anuncia
é outra vez um novo dia...

£una

Saudade


Minha saudade cresce em disparada
e há assomos de repentina tristeza
quebrada e partida em ínfimos pedaços.

Tão longe vais e esta solidão
passeia oelos campos espargindo
o silêncio dos meus ais.

Debruça-se a tarde numa hora vazia,
mora em meu sonho leve ponta de melancolia.

Mariza Alencastro

Dia Blue


Dia blue
Dia bruma
Dia névoa
Dia frio
Agua nas pedras
Agua pingando
vidraça molhada
Dia ruim
Dia sem nada
Dia blue
céu sem estrela
Negro
Riscado
De raios 
E fios
Da madrugada
£una

Essa doeeeu



Dancei a dança da chuva
E não choveu.
Te pedi um beijo
E voce não deu.
Pedi um abraço
Voce correu...
Achei um brilhante
Que nao era meu.
Procurei o meu barco,
Desapareceu!
Clamei por um anjo,
não apareceu...
Sentei na estrada
E chorei,
...essa doeeeeeuuu

£una

Colcha de retalhos


Qual colcha de retalhos
Minha vida,
Fui juntando os pedaços,
Costurando...
Um veludo...uma renda,
Um pouco de cetim,
Um paetê brilhando
Ou coisa assim...
As vezes uma nesga de algodão,
Um cânhamo puído
Se esgarçando...
E um resto que sobrou da fantasia
De arlequim... 

£una

Vendaval



barco solto no vendaval
o mastro erguido, vela se enfuna
na amurada uma onda se levanta
barlavento... sotavento...
no ar um colar de espuma
varre o convés, solta o vento
balança o barco, recolhe a vela
marinheito...marinheiro,
pega o leme marinheiro
lá longe o cais esperando
deliram os céus e mares
marinheiro não tem pressa,
a morte está espreitando.

Uma voz o chama...no fundo do oceano 

Mariza Alencastro
(£una)

Outono


caqui maduro, carambolas
passarinhos cantando na goiabeira
um pé de manga dourado,
um riacho...uma ribeira
uma rede balançando
uma tarde alvissareira
cheiro de mato molhado
é o outono se chegando...

£una

Calmaria

Era um dia claro de verão,

fazia tanto sol e tanta poeira
brilhando como purpurina
em plena calmaria...

que lembrei-me das nuvens grávidas
que o vento empurrava sobre a areia
e bania para os lados do mar.

Lembrei-me dos barcos temerários
que partiram na madrugada,
e talvez não consigam voltar...

£una

Praia deserta

Minha alma ficou ali naquela praia
deserta e antiga,
onde jazem os escombros dos barcos
naufragados
e os lamentos das mulheres que perderam
seus homens no mar.
Ali naquela canto batido de ventos,
carcaças e moluscos na areia,
a minha alma vagueia
entre a bruma e a penumbra do luar...

Mariza Alencastro

Onde está meu coração

meu coração nasceu aqui
junto ao mar
ao pé do rochedo incrustado de mariscos

Meu berço foi essa areia imensa
onde eu adormecia ouvindo o canto das sereias
e o apito do navios ao longe. 
Aqui cresceu meu coração, sem guitarras e pardais
só o doce marulhar das ondas,
e o alvoroço das gaivotas sobrevoando
a espuma branca que bordava a areia.

quando eu morrer, não me levem a outro lugar
que meu coração repouse no fundo do mar.

Mariza Alencastro

Maresia II

"Estrelas piscam sonolentas
enquanto os peixes se agitam nas ondas,
as belas espáduas prateadas ao luar,
o som da água batendo nos rochedos,
e aquele impressionante cheiro de mar...."

£una